Ultrassonografia e úlceras gastrointestinais

Tempo de leitura: 3 min

Escrito por Adriana Meirelles
em 2 abril, 2017

Esse mês, ou melhor, ontem (abril/2017), foi publicado um artigo muito interessante na revista “Journal of Small Animal Practice” (v58) sobre úlceras gastrointestinais em cães. É um assunto interessante pra mim porque tenho visto cada vez mais casos na minha rotina.
A úlcera é a ausência focal da mucosa gástrica ou intestinal. As principais causas de úlcera intestinal em cães são: administração de fármacos anti-inflamatórios não esteroidais e esteroidais (corticóides), ingestão de corpos estranhos, exercício físico intenso, neoplasias, doença intestinal inflamatória, doença hepática, uremia, dentre outras.
Os sinais podem variar desde os mais inespecíficos como inapetência, letargia, fraqueza, até abdomen agudo com muita dor, distensão abdominal, vômito. Em casos de suspeita de peritonite, esses pacientes são candidatos a cirurgia de laparotomia exploratória de urgência.  
Para detecção de úlceras por radiografia,  um dos sinais que pode causar suspeita é a presença de gás livre na cavidade (pneumoperitôneo) e para ver a úlcera em si, seria necessário o uso de contrastes (lembrando que o bário é  contraindicado quando existe a suspeita de perfuração e o exame radiográfico poderia retardar um diagnóstico mais rápido). A ultrassonografia é o método mais utilizado (a tomografia computadorizada também pode ser utilizada, mas pelo menos na minha rotina ainda está longe da realidade). 
Ultrassonograficamente, a úlcera é vista como um defeito na mucosa ao centro de uma área espessada na parede do estômago ou intestino contendo ecos (de tamanhos variados) que possivelmente representem bolhas de gás que se infiltram no defeito da parede.
Um dado importante é que líquido livre peritoneal pode ser encontrado tanto em úlceras não perfuradas como as perfuradas (mais comum na última) e gás livre somente nas perfuradas. Nos casos em que for possível coletar o líquido livre guiado por ultrassonografia, a presença de células brancas com bactéria intracelular é diagnóstica de peritonite séptica (claro, nem toda peritonite séptica é causada por úlceras – a união de vários dados clínicos, de imagem e laboratoriais é imprescindível). Também vale lembrar que a ecogenicidade do líquido livre NÃO é diagnóstica de peritonite, já que pode ser hiperecogênico OU anecogênico na peritonite).
Aos apaixonados por ultrassonografia como eu, recomendo a leitura do artigo na íntegra. Muito bom!

Abaixo registro alguns casos que tenho acompanhado. As suspeitas de úlcera gástrica e/ou intestinal não foram confirmadas por cirurgia, endoscopia ou necropsia.
Paciente canino com hematemese (vômitos com sangue) e histórico de ingestão de diclofenaco (anti-inflamatório não recomendado para cães). A imagem ultrossonográfica mostra área espessada, com descontinuidade da parede intestinal (seta branca) e vários pontos hiperecogênicos sugestivos de bolhas de gás em parede (setas amarelas). 
Paciente canina com vômito e diarréia com sangue. Na imagem de cima, porção do cólon menos afetada e abaixo, irregularidade da parede do cólon com pequenos pontos hiperecogênicos (bolhas de gás) permeando a parede.
Paciente canina com perda de peso. Nessa imagem do estômago, observa-se uma perda abrupta da delimitação das  camadas da parede. Exames de sangue evidenciaram doença renal e uremia.

Paciente canino com vômitos e muita dor abdominal. Na ultrassonografia, estômago com área de desestruturação das camadas parietais, com erosão e presença de gás.
Paciente com dor abdominal e inapetência.  Na ultrassonografia, espessamento focal e nodular da parede do estômago causando área de defeito em mucosa.

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