Peritonite infecciosa felina (PIF) e a ultrassonografia

Tempo de leitura: 4 min

Escrito por adriana
em 24 junho, 2018

 

A PERITONITE INFECCIOSA FELINA (PIF) é uma doença imuno-mediada fatal de felinos que é desencadeada pela infecção do coronavírus felino. Podemos encontrar anticorpos contra coronavírus felino em até 90% dos gatos e isso dificulta o diagnóstico; lembrando que aproximadamente 5% desses positivos desenvolvem a PIF. O grande problema é que é uma doença sem sinais clínicos específicos, sem achados hematológicos ou bioquímicos que sejam patognomônicos para essa doença.

Precisamos entender um pouco mais sobre como essa doença ocorre. Hoje já se sabe que os gatos são infectados pelo coronavírus entérico não virulento, ele se replica nos enterócitos, em algum momento ocorre uma mutação no vírus e ele consegue se multiplicar em macrófagos e é aí que o problema se instala.

Pensando nisso, vemos que o problema se agravou com aglomerados de gatos usando caixas de areia em comum e tendo mais contato com o vírus transmitido pelas fezes (a infecção é oronasal). A PIF é um problema em locais onde há uma grande quantidade de gatos vivendo juntos e em locais onde vivem confinados. Ou seja, muito difícil de prevenir na nossa realidade.

O risco de desenvolvimento de PIF é maior em gatos jovens e em gatos com o sistema imune comprometido. Pra entender isso, vamos entender em mais detalhe como isso ocorre:

A transmissão que ocorre é do coronavírus entérico – que pode não causar sintomas ou causar diarreia (se a replicação for grande) e alguns sintomas respiratórios leves. A PIF por si não é infecciosa e sim uma doença esporádica causada por uma variante viral que se desenvolve no individuo. A probabilidade da mutação ocorrer é maior quanto mais o vírus se multiplica no intestino. Essa multiplicação é maior em gatos filhotes, imunocomprometidos (por exemplo FIV ou FELV positivos), que usam corticóides, que passaram por cirurgias.

É natural então que PIF ocorra mais em filhotes, que estão sendo infectados com altas doses de coronavírus no ambiente, estão recebendo suas vacinas, sendo alocados para suas novas casas, sendo castrados… tudo isso propiciando que a doença ocorra.

O maior dano causado pela PIF não ocorre pelo vírus em si, mas sim pelo próprio sistema imune do gato. O vírus mutado se encontra no ceco, cólon, linfonodos intestinais, baço, fígado e sistema nervoso central. Toda a reação do sistema imune gera uma reação granulomatosa em vários órgãos. A deposição de imunocomplexos ocorre em locais de alta pressão e turbulência sanguínea, por isso temos lesões em peritônio, rins e úvea.

A fixação de complemento leva a liberação de aminas vasoativas que causam retração de células endoteliais capilares e aumentam a permeabilidade vascular. Por isso há perda de proteínas e surgem os exsudatos ricos em proteína (por isso usamos esse parâmetro quando analisamos o líquido livre). A vasculite imuno-mediada causa grandes danos e leva a coagulação intravascular disseminada (CID).

A presença de anticorpos preexistentes facilita a entrada do vírus nos macrófagos e por isso têm sido tão difícil o desenvolvimento de vacinas para essa doença.

Os sinais clínicos são inespecíficos e consequência do dano causado aos órgaos. Portanto, em gatos com perda de peso, febre, doença recorrente… temos que pensar em PIF. A doença pode levar algumas semanas ou até 2 anos para começar a apresentar sinais após a mutação. O tempo entre infecção com coronavírus e mutação é ainda mais imprevisível…

Eles podem apresentar 3 tipos de doença: a forma efusiva, a forma seca granulomatosa, e uma forma mista. As efusões podem ser abdominal (ascite), torácica (efusão pleural) ou pericárdica. Massas abdominais podem ocorrer com aderência entre vísceras e omento, aumento de linfonodos mesentéricos. Na forma seca os gatos geralmente perdem peso, tem apetite diminuido, febre, disfunções de outros órgãos. Muitas vezes há suspeita de tumores pelo aumento de órgãos e linfonodos. Alterações oculares ocorrem com frequência, especialmente na retina e uveítes. Os sinais neurológicos podem ser centrais, mas se algum nervo periférico estiver afetado pode haver claudicação, paresias…

Na minha rotina, tenho descofiado muito de PIF em vários gatos que examino ultrassonograficamente. É necessário uma união entre histórico, sinais clínicos, alguns achados laboratoriais, achados ultrassonográficos. O diagnóstico definitivo ainda é difícil e não vou entrar em detalhes sobre  os possíveis testes e suas especificidades e sensibilidades nesse artigo. Então fiquem atentos quando houver líquido livre, mas principalmente nos casos em que não há líquido livre, mas vemos aumento de órgãos (fígado e baço), aumento e alterações de morfologia renal, aumento de linfonodos, peritonites. Olhem esse vídeo do abdomen de um gato com forte suspeita de PIF, observem o rim bastante alterado e aderido à uma massa, o mesentério reativo, pancreas alterado, peritonite…

Na próxima semana vou divulgar alguns vídeos de exames em que a PIF ficou no topo da minha lista de diagnósticos diferenciais.

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